Safra de borracha da Guariba-Roosevelt supera expectativas no primeiro semestre

A imagem mostra um homem fazendo a sangria em uma seringueira.

Projeto é patrocinado pela Petrobras e contribui para a proteção de 164 mil hectares de floresta amazônica na Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt

Os seringueiros da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt realizaram a primeira pesagem da safra da borracha produzida pelas duas associações dos extrativistas moradores da reserva no primeiro semestre deste ano. A produção é feita com apoio do projeto Pacto das Águas, que tem patrocínio da Petrobras.

De maio a agosto, os seringueiros da Guariba-Roosevelt colheram 10,7 toneladas de cernambi, volume que corresponde a mais de dois terços da meta para 2019. Mas, mesmo com o resultado surpreendente do primeiro semestre, a expectativa da comunidade é de que a produção total seja um pouco menor que a do ano anterior. Isto porque a safra, que geralmente vai de março a dezembro, começou atrasada devido às cheias no Rio Roosevelt.

A extração do cernambi – como é chamado o látex natural após ser extraído da seringueira – no território da reserva é uma atividade bastante importante para as comunidades ribeirinhas, pois traz autonomia para essas populações.

“A atividade, com o apoio do Pacto das Águas, traz autoconfiança para nossas organizações e para a comunidade, porque todos sabem que irão receber o recurso equivalente àquela pesagem”, conta Ailton Pereira dos Santos, presidente da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba-Roosevelt Rio Guariba (AMORARR).

Ailton completa que a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBIO, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), também é importante para a confiança dos seringueiros na atividade. “Sem ela, não teríamos como manter um giro razoável de recursos para atender aos produtores”. Com a PGPMBIO, a Conab garante um preço mínimo para 17 produtos que advém do extrativismo, dentre eles a borracha.

O projeto Pacto das Águas dá apoio logístico e de gestão para as comunidades, facilitando o acesso ao PGPMBIO. “Nosso trabalho é no sentido de dar para as comunidades condições para eles poderem otimizar a produção e melhorar seus rendimentos” aponta Emerson de Oliveira, coordenador técnico do projeto. “Isso é importante para a qualidade de vida das pessoas que moram na reserva e fundamental para ajudar na conservação da floresta”, reflete Emerson.

Criada em 1996 pelo Governo do Estado de Mato Grosso, a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt protege 164 mil hectares de floresta amazônica no Noroeste de Mato Grosso. O projeto Pacto das Águas beneficia 65 famílias/pessoas moradoras da reserva.

Veja os resultados das últimas safras (de 2013 a 2018):

Gráfico com seis colunas verticais e resultados das safras de 2013 a 2018.( Respectivamente : 14,3t; 12,8t; 10,5t; 12,8t; 13,6t; e 11,3.
Produção Anual de Borracha da Reserva Guariba-Roosevelt (2013-2018) – em toneladas.
Fonte: Projeto Pacto das Águas

Produção sustentável

Além do suporte logístico e de gestão, a parceria entre as associações dos moradores e o projeto Pacto da Águas, possibilita também que o extrativismo se dê através de boas práticas. Uma delas é o período de pausa na extração do látex, que ocorre entre 20 de agosto e 20 de setembro.

O período de pausa é essencial para a sustentabilidade no processo de exploração das seringueiras, que na região do Guariba-Roosevelt são todas nativas. O látex obtido pela sangria das seringueiras tende a se tornar menos espesso com a exploração contínua, o que se reflete diretamente na qualidade da borracha.

A pausa é importante para a recuperação da densidade do látex e, também, para a saúde das seringueiras. Além disso é importante também para a economia local, pois é um período de recesso em que os seringueiros se abastecem nos comércios da região.

O acompanhamento da safra também é incentivado pela organização e permite que as associações estabeleçam uma logística para a produção.

Seringueiros são parte da história do Brasil

O extrativismo do látex advindo da Hevea brasiliensis – a popular seringueira – é uma atividade econômica entrelaçada à cultura dessa região e à história do Brasil. Ailton Pereira dos Santos, presidente da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba-Roosevelt Rio Guariba (AMORARR), conta que a cultura da borracha na região teve início durante o Estado Novo, na década de 1930, no contexto da batalha da borracha.

Na época, o país se comprometeu a aumentar para 100 mil toneladas por ano a produção de borracha, durante o período da Segunda Guerra Mundial. Milhares de trabalhadores, que depois ficaram conhecidos como Soldados da Borracha, foram arregimentados para essa empreitada de aumento de produção. Por consequência, 50 mil trabalhadores nordestinos foram direcionados aos seringais.

“Nossa comunidade – da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt – é composta por descendentes dessa migração, que ocorreu na década de 1940. E atualmente somos os últimos descendentes dos Soldados da Borracha em Mato Grosso”.

Apesar da borracha ser natural do Brasil, atualmente o país importa mais da metade do produto utilizado na indústria. De acordo com estimativas da Associação dos Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC), sigla em inglês, a produção mundial de borracha natural foi de 14 milhões de toneladas em 2018 – 90% disto é oriundo da Ásia. A borracha sintética representou 52,7% da produção mundial de borrachas em 2018, totalizando 15 milhões de toneladas.

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