Os moradores da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, a única de Mato Grosso, localizada entre os municípios de Aripuanã e Colniza, na região Noroeste, vivem um importante momento de retomada e fortalecimento de suas atividades econômicas e culturais. Com o apoio do projeto Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, os extrativistas adotaram boas práticas de manejo na coleta e armazenamento da castanha-do-Brasil e na extração do látex das seringueiras. Como resultado dessas práticas, estão comercializando mais produtos, com mais qualidade e a um preço mais justo, que já reflete uma melhoria significativa na qualidade de vida dentro da reserva.
Desde o início do projeto Pacto das Águas, em 2007, os extrativistas da Resex participam de oficinas e capacitações para identificar demandas no fortalecimento de atividades econômicas e culturais que mantém a floresta em pé. “Uma de nossas ações mais importantes foi conseguir diminuir os atravessadores que pagavam preços absurdamente baixos aos extrativistas”, explica Emerson de Oliveira Jesus, técnico de campo do projeto. “Nós ajudamos a construir parcerias com instituições e empresas, possibilitando que os extrativistas possam escolher pra quem vender a castanha e o látex”, complementa.
No mês de abril deste ano começou a funcionar na reserva um secador rotativo da castanha-do-Brasil, que já está permitindo a venda de castanhas dry, mais secas e limpas que as castanha in natura. Com a comercialização de seus produtos florestais não-madeireiros, os chefes de famílias puderam adquirir, por exemplo, barcos a motor, essencial como meio de transporte numa região cuja a única ligação com as cidades é o rio durante boa parte do ano.
“Muitos moradores possuem geradores de energia elétrica, TVs e outros utensílios domésticos que seriam impensáveis há dez anos”, comenta Jesus. “Ter crediário, comprar roupas novas e material escolar para os filhos, fatos rotineiros nas grandes cidades mas um sonho distante para muitos moradores da Resex que se tornou realidade com a floresta e apoio do projeto e parceiros compromissados”, ressalta.
“Houve o retorno da dignidade dos seringueiros do Guariba-Roosevelt”, afirma Everaldo Dutra, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã e um dos primeiros defensores da criação da Reserva no início da década de 90. “A criação da reserva e a posterior ampliação foram importantes para ajudar na manutenção no modo de vida dos seringueiros mas ainda há muito caminho a ser percorrido”, conta Dutra. “No entanto a seriedade da equipe do projeto e seus resultados estão ajudando a melhorar a qualidade de vida de toda a comunidade”, complementa.
Mais qualidade de vida
Benedito Paes dos Santos, professor da Escola Municipal de Ensino Básico Trilha do Saber, que fica dentro da Resex, conta que o aumento da produção de castanha-do-Brasil vem estimulando o convívio familiar. “A coleta da castanha é um trabalho que envolve toda a família e além ajudar a transmitir a nossa tradição de pai para filhos diminui a necessidade de os mais jovens saírem do Guariba em busca de trabalho”, alegra-se o professor. “Eu, que sou filho de seringueiros, também trabalho com a castanha no período das férias escolares e muitos dos meus alunos de 17, 18 anos já estão tirando parte do seu sustento com o extrativismo”, finaliza.
Já o barqueiro Aizo Pereira dos Santos trabalhou intensamente na última safra de castanha e em pouco mais de 30 dias na floresta conseguiu ouriços suficientes que lhe permitiu comprar uma moto nova. “Nós sempre vivemos do extrativismo mas há 20 anos os preços pagos eram muito ruins”, explica Aizo. Para ele, um novo caminho está sendo trilhado.“Com as boas práticas de coleta e armazenamento os nossos produtos melhoraram e toda a comunidade está vivendo melhor”, afirma.
Sustentabilidade econômica
De forma geral, todas as 40 famílias, que totalizam mais de 300 pessoas, estão envolvidas com o projeto Pacto das Águas. Em relação a castanha-do-Brasil, o ápice da coleta se dá nos meses de fevereiro e março, após o período de queda natural dos ouriços nas matas. Nesta última safra foram produzidas 60 toneladas, vendidas principalmente para a Cooperativa de Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam) e Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA), ambas de Juruena (MT), além da Cooperativa Mista do Guariba (Coomigua), localizada em Aripuanã. A renda líquida obtida ultrapassou 175 mil reais no período.
Já no caso da seringa, 22 chefes de família estão envolvidos na extração do látex que na última safra produziu mais de 11 toneladas. Toda a produção foi vendida a empresa de pneus Michelin a 4 reais o quilo, gerando uma renda de 46 mil reais aos seringueiros. A produção de seringa na RESEX se dá em duas etapas. Por os seringais nativos se situarem em áreas alagadiças, a primeira coleta começa em maio, quando os rios baixam, e se estende até agosto. Depois de um período de “descanso” das árvores por 30 dias, a atividade é retomada e continua até outubro ou novembro, dependendo da intensidade de chuvas na região.
“É importante considerar que além destas safras, os moradores também exercem outras atividades econômicas e de subsistência como a pesca, criação de pequenos animais e a agricultura”, explica Plácido Costa, coordenador do projeto. “Ou seja, além de viverem em harmonia com a floresta, os moradores estão desenvolvendo uma maneira de agregar valor a suas atividades e garantindo trabalho e renda a seus descendentes”, complementa.
Saiba mais sobre a Resex Guariba-Roosevelt
A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt é uma Unidade de Conservação, criada pelo Decreto 9.521 de 1996 e Lei Estadual 7.164, ampliada pela Lei 8.680/2007. A UC está localizada nos municípios de Aripuanã, e Colniza. Os seringueiros dos rios Guariba e Roosevelt fazem parte da história da exploração de borracha nativa no estado do Mato Grosso e há registros históricos de ocupação da região de pelo menos um século. A principal fonte econômica dos moradores se baseia na agricultura e na extração do látex, óleo de copaíba e castanha-do-Brasil.
Apesar da criação e do apoio do governo de Mato Grosso, principalmente por meio do projeto “Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade das Florestas do Noroeste de Mato Grosso” executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Reserva ainda enfrenta problemas fundiários, sociais e de infraestrutura. De acordo com Everaldo Dutra, presidente do STR Aripuanã, a fiscalização é deficiente, as estradas são ruins e carecem de melhorias em relação a saúde e educação.
Já nas questões socioambientais, além do projeto do PNUD e da parceria com o Pacto das Águas foi implantado em 2011 o plano de manejo da Resex, que prevê investimento na gestão da unidade de conservação.
PACTO DAS ÁGUAS – O projeto Pacto das Águas nasceu do desejo de seringueiros, povos indígenas e agricultores familiares do noroeste da Amazônia mato-grossense de construir alternativas ao modelo de ocupação predominante nessa região. Os esforços do Pacto das Águas são direcionados a ações de suporte à organização social de comunidades e para o manejo e a comercialização de produtos florestais, como a castanha-do-Brasil e o látex da seringueira nativa. São parceiros locais os povos indígenas Zoró e Rikbaktsa, além dos seringueiros da Reserva Extrativista Guariba – Roosevelt.