Indígenas da etnia gavião, retomam a atividade de borracha depois de 22 anos

Indigena gaviao
Catarino Sebirop, em memória do grande líder e cacique dos Ikólóéhj Gavião, povo indígena que vive na Terra Indígena Igarapé Lourdes em Rondônia. Acervo Pacto das Águas – Foto José Medeiros

Agregação de valor e honra aos serviços ambientais dos povos da floresta

A equipe Pacto das Águas, desceu em direção a Terra Indígena Igarapé Lourdes do povo Gavião no município de Ji-Paraná (RO). Em 17 de fevereiro, realizou-se a primeira reunião de planejamento de safra da borracha natural do ano de 2022 e atrelada a ela, o cadastro do produtor e a entrega de insumos para apoio à cadeia produtiva.

“Durante todo o Projeto Pacto da Floresta este é o primeiro ano que indígenas vão trabalhar com a borracha. O projeto já atua no apoio e produção da cadeia da borracha nativa, com excelentes resultados em Reservas Extrativistas em Rondônia. O interesse dos povos indígenas é algo recente e começou a despertar a partir do meio do ano de 2021, quando a Pacto das Águas divulgou as relações de parceria de comercialização garantida com empresas de tênis sustentáveis, como a Vert Shoes e a Osklen.” explica Stephanie Rezende, Técnica Agrícola e Florestal, responsável por guiar a atividade.

Reunião de planejamento de safra da borracha na aldeia Cacoal- TI Igarapé Lourdes, Equipe Pacto das Águas e Indígenas Gavião

Os indígenas, futuros extrativistas/seringueiros das aldeias Ikoloehj II, Nova Esperança, Terra Branca, Igarapé Lourdes e José Antônio, foram em direção à aldeia Cacoal, e lá se reuniram para o planejamento com a equipe Pacto das Águas. 

A técnica Stephanie conta que, “Durante a primeira reunião de planejamento foram pactuados, preços de comercialização com a VERT, data de pesagem, quantidade de produção, produtores que vão trabalhar na safra e a importância da regularização (DAP- Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Nota Fiscal e conta bancária), acesso a subvenção, boas práticas em relação à qualidade da matéria prima e os 4 zelos que a VERT prega, são eles: 

  • ZELO BORRACHA – Produzir borracha de 1a qualidade;
  • ZELO SERINGUEIRA – Seguir as boas práticas de manejo das seringueiras e das estradas de seringa; 
  • ZELO ASSOCIAÇÃO/COOPERATIVA – Cumprir os compromissos com a associação/cooperativa e a organização da produção;
  •  ZELO FLORESTA – Fortalecer o uso da terra extrativista, considerando limites máximos de desmatamento anual de mata bruta.
Seringueiro extrativista da Resex do Rio Cautário (RO), na Amazônia, ao lado da árvore Seringueira. Foto 1: José Medeiros/ Pacto das Águas Produção do tênis sustentável Vert Shoes. Foto 2: Vert Shoes

A Vert Shoes é uma marca de tênis de origem francesa, ao mesmo tempo com produção totalmente brasileira. Ela utiliza em seus produtos borracha nativa coletada por extrativistas tradicionais participantes do projeto Pacto da Floresta. Esse projeto é desenvolvido pela Pacto das Águas com recursos financeiros do Fundo Amazônia/BNDES. 

O produto provém do látex líquido, extraído da Seringueira, uma árvore nativa da floresta amazônica. A extração do látex é feita de forma responsável pelos extrativistas das três Reservas Extrativistas (RESEXs Estadual e Federal do Rio Cautário e RESEX do Rio Ouro Preto em Rondônia). A Pacto das Águas se sente gratificada pela parceria que agora garante a comercialização justa entre a Vert e os povos Gavião da TI Igarapé Lourdes.

eunião de planejamento de safra da borracha na aldeia Cacoal- TI Igarapé Lourdes, Equipe Pacto das Águas e Indígenas Gavião

A entrega dos insumos para apoio à safra da borracha se deu logo após a realização do cadastro do produtor do projeto Pacto da Floresta, que aconteceu simultaneamente ao cadastro na Rede Origens Brasil (projeto que recebe recursos do Imaflora), rede a qual somos membros e que garante relações comerciais éticas, com transparência e rastreabilidade entre produtores e empresas membro. Desse modo, o produtor foi oficializado como extrativista/seringueiro. 

Reunião de planejamento de safra da borracha na aldeia Cacoal- TI Igarapé Lourdes, Equipe Pacto das Águas e Indígenas Gavião

O Pacto das Águas acredita que só nos fortalecemos em um lugar conjunto, o que possibilita abertura para dialogar com a comunidade, parceiros, colaboradores e patrocinadores, visando transformar a realidade dos povos da floresta amazônica, ao gerar renda e manter a floresta em pé. 

Entrega dos insumos, produtores cadastrados junto as técnicas Pacto das Águas.
Entrega dos insumos, produtores cadastrados junto as técnicas Pacto das Águas.

Pensar a floresta é pensar em pessoas que vivem nela. Os povos indígenas e tradicionais são os guardiões da sociobiodiversidade e buscamos agregar valor e honrar os serviços que prestam ao nosso planeta.  

A partir da iniciativa, fortalecemos a cadeia produtiva da Borracha Natural, uma alternativa de geração de renda aos povos na entressafra da Cadeia da Castanha do Brasil em que o projeto Pacto da Floresta também atua.

Contexto Histórico

Especificamente em Rondônia,  a cadeia de valor da Borracha Nativa possui forte influência na formação e desenvolvimento do Estado, crescimento populacional e economia, contudo, sabemos que para a formação dos seringais, no passado, povos indígenas e comunidades tradicionais passaram por intensa exploração de sua força de trabalho. Atualmente e felizmente, com a demarcação dos territórios e com o surgimento das Reservas Extrativistas, esse cenário não é mais o mesmo. Atuar nas cadeias de produtos da floresta, com apoio de Organizações com projetos que valorizem seus saberes e modos de vida e apoiem a estruturação das cadeias de produção não madeireira, se tornou uma alternativa para que esses povos possam resistir ao desmatamento e manter a floresta em pé. 

Cadeias de Valor apoiadas Projeto Pacto da Floresta

Castanha do Brasil, Borracha (Cernambi Virgem Prensado-CVP), Açaí Nativo e Farinha de Mandioca.

Abrangência

Rondônia: TI Igarapé Lourdes, TI Rio Branco, RESEXs Federal e Estadual do Rio Cautário e RESEX do Rio Ouro Preto.

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